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sábado, 1 de junho de 2019

NUM ÚLTIMO FULGOR/Poesia de Lidia Borges




















Perdidos do verde que lhes fora cor
os olhos entonteciam,
forçados a ver, cegos de Imaginação.
Dou por mim a perguntar:
que é da Beleza?
E tu que… nos olhos, nos olhos.

E, sem Imaginação, eu penso-me 
enclausurada
numa casa azul em demolição
e cerro as pálpebras.
E dou por mim a perguntar:
que é da Liberdade?
E quem me responde nunca me responde,

tem o peito cheio de frios temores
diz ter que acudir, [como se Deus] aos homens,
ao mundo que ruge, animal feroz, em agonia.

Num último fulgor
desarrumo a realidade toda
para descobrir, por fim, uns fragmentos
verídicos da matéria estrelar
que compõe o meu corpo.
[É inacreditável, não é?]

Sou então traduzível à luz das estrelas
e não pergunto:
que é da Poesia?

Rompidas as metáforas até aos ossos,
ignorada a voz da criação,
o leve perfume do espírito indizível,
é ainda possível
a pura invasão do poema
nascido dos veios do carvão,  
pelo canto inebriante dos pássaros
a cada amanhecer.

E não pergunto: que é de mim?

F. Blog  seara de Versos

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